sexta-feira, 28 de setembro de 2018

A Princesa e o Sapo



Era uma vez... numa terra muito distante... uma princesa linda, independente e cheia de auto-estima.
Ela se deparou com uma rã enquanto contemplava a natureza e pensava em como o maravilhoso lago do seu castelo era relaxante e ecológico... 
Então, a rã pulou para o seu colo e disse: linda princesa, eu já fui um príncipe muito bonito. 
Uma bruxa má lançou-me um encanto e transformei-me nesta rã asquerosa. 
Um beijo teu, no entanto, há de me transformar de novo num belo príncipe e poderemos casar e constituir lar feliz no teu lindo castelo. 
A tua mãe poderia vir morar conosco e tu poderias preparar o meu jantar, lavar as minhas roupas, criar os nossos filhos e seríamos felizes para sempre... 
Naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã sautée, acompanhadas de um cremoso molho acebolado e de um finíssimo vinho branco, a princesa sorria, pensando consigo mesma: 
- Eu, hein? Nem morta!


Luis Fernando Veríssimo - crônicas

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

O tempo e as jabuticabas

Contei meus anos e
descobri que terei menos tempo para viver
daqui para frente do que já vivi até agora.
Tenho mais passado do que futuro…
Sinto-me como aquele menino
que ganhou uma bacia de jabuticabas…
As primeiras, ele chupou displicente…
mas percebendo que faltam poucas,
rói o caroço…
Já não tenho tempo
para lidar com mediocridades…
Não quero estar em reuniões
onde desfilam egos inflados.
Inquieto-me com invejosos
tentando destruir quem eles admiram,
cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo
para conversas intermináveis…
Já não tenho tempo para administrar
melindres de pessoas que,
apesar da idade cronológica,
são imaturas…
Detesto fazer acareação de desafetos
que brigaram pelo majestoso
cargo de secretário geral do coral…
As pessoas não debatem conteúdos…
apenas os rótulos…
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos…
quero a essência…
minha alma tem pressa…
Sem muitas jabuticabas na bacia,
quero viver ao lado de gente humana, muito humana;
que sabe rir de seus tropeços…
não se encanta com triunfos…
não se considera eleita antes da hora…
não foge de sua mortalidade..
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade…
O essencial faz a vida valer a pena…
e para mim
basta o essencial…
Rubem Alves

quarta-feira, 25 de julho de 2018

A cor do invisível...





Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.

Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza...

Nem importa, ao velho tempo,
Que sejas fiel ou infiel...

Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves...
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel

Mário Quintana