quinta-feira, 27 de abril de 2017

Uma voz na pedra


Não sei se respondo ou se pergunto.
Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.
Estou um pouco ébria e estou crescendo numa pedra.
Não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.
De súbito ergo-me como uma torre de sombra fulgurante.
A minha ebriedade é a da sede e a da chama.
Com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio.
O que amo não sei. Amo em total abandono.
Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.
Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim.
Não estou perdida, estou entre o vento e o olvido.
Quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.
Não sou a destruição cega nem a esperança impossível.
Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra.

A. Ramos Rosa




Foto - Rochas na praia de Trindade,RJ

terça-feira, 25 de abril de 2017

Abrir o portão sem fazer alarde...



"Não importa o quão estreito seja o portão e quão repleta de castigos seja a sentença, eu sou o dono do meu destino, eu sou o capitão da minha alma" 


William Ernest Henley 










Foto - Portão da Fazenda Morada do Castelo, Resende/RJ

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Lentos os dias....


Lentos os dias. Lento o vazio das ruas.
Lentos os caminhos sulcados pelas veias.
Tão lentos que um lento gesto
me bastava para conter um verso
por mais silente que fosse.
Agora, as palavras dançam à minha volta.
São serpentinas de todas as cores
enroladas ao corpo.
Difíceis de domar fragmentam-se, voam.
Como vultos imprecisos
no transtorno das mãos.

Graça Pires








Foto - Porto, Portugal