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terça-feira, 11 de abril de 2017

Simplicidade....


Queria, queria
Ter a singeleza
Das vidas sem alma
E a lúcida calma
Da matéria presa.

Queria, queria
Ser igual ao peixe
Que livre nas águas
Se mexe;

Ser igual em som,
Ser igual em graça
Ao pássaro leve,
Que esvoaça...

Tudo isso eu queria!
(Ser fraco é ser forte).
Queria viver
E depois morrer
Sem nunca aprender
A gostar da morte.

Pedro Homem de Mello, in "Estrela Morta"  














Foto - Torre da Igreja Matriz de Resende,RJ

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Necessito do mar.....


Necessito do mar porque me ensina:
não sei se aprendo música ou consciência:
não sei se é onda ou onde ou ser profundo
somente rouca voz ou deslumbrante
suposição de peixes e navios.
O fato é que até quando estou dormindo
de algum modo magnético circulo
na universidade do marulho.

Não somente conchas trituradas
como se algum planeta estremecido
participara paulatina morte,
não, do fragmento reconstruo este dia,
de um cavaco de sal e estalactite
de uma colherada o deus imenso.

O que antes me ensinou eu guardo! É ar,
um incessante vento de água e areia.

Parece pouco para um homem jovem
que aqui chegou para viver seus incêndios,
e no entanto era um pulso que subia
e descia ao seu abismo,
o frio do azul que crepitava,
o desmoronamento de uma estrela,
o terno desprender-se de uma onda
desperdiçando neve com a espuma,
o poder quieto, ali, determinado
como um trono de pedra no profundo,
substituiu o lugar que acreditavam
tristeza tenaz, amontoando olvido,
bruscamente mudou minha existência:
minha adesão ao puro movimento.

Pablo Neruda









Foto - Trindade, Paraty/RJ

domingo, 12 de fevereiro de 2017

A Escrita das Águas....


Olho em meu redor.
A chuva afaga as raízes das árvores
e agita seus ramos como se fossem
mantilhas de seda agasalhando
os pássaros no rodeio do vento.
Sei que o tempo não se detém.
Os muros mais severos assinalam,
sem dissonância, a escrita
repisada das águas que a idade
guardou na borda das pedras.

Graça Pires