sexta-feira, 31 de março de 2017

E fecho a janela.....



Meto-me para dentro, e fecho a janela.
Trazem o candeeiro e dão as boas noites,
E a minha voz contente dá as boas noites.
Oxalá a minha vida seja sempre isto:
O dia cheio de sol, ou suave de chuva,
Ou tempestuoso como se acabasse o Mundo,
A tarde suave e os ranchos que passam
Fitados com interesse da janela,
O último olhar amigo dado ao sossego das árvores,
E depois, fechada a janela, o candeeiro aceso,
Sem ler nada, nem pensar em nada, nem dormir,
Sentir a vida correr por mim como um rio por seu leito.
E lá fora um grande silêncio como um deus que dorme.


 Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XLIX"
Heterónimo de Fernando Pessoa




Foto - Fazenda Morada do Castelo, Resende/RJ

Nenhum comentário:

Postar um comentário